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Lojas satélites faturam três vezes mais do que as âncoras por m2

Lojas satélites faturam três vezes mais do que as âncoras por m2

Os maiores faturamentos são de perfumaria, cosméticos e quiosques de alimentação, e os menores, de livraria e lojas de brinquedos, de acordo com levantamento da Abrasce

Durante décadas, as lojas âncoras, como o próprio nome diz, são consideradas as grandes atrações dos shoppings, a ponto de haver grande disputa para ver quem consegue trazê-las.

A marca espanhola Zara, por exemplo, que acaba de entrar no Pátio Higienópolis e se prepara para estrear no Center Norte, é uma das queridinhas dos centros comerciais.

A pergunta que fica é: qual é o desempenho das âncoras, geralmente sinônimo de grandes redes, em comparação com as chamadas lojas satélites, aquelas que ficam ao redor delas?

Levantamento da Abrasce, associação de shopping centers do país, mostra que as lojas satélites faturam, por metro quadrado, três vezes mais do que as âncoras.

Em julho, as lojas âncoras (com mais de 1.000 metros quadrados de área) venderam, em média, R$ 836 por metro quadrado, 1,5% mais do que em julho de 2022.

As lojas satélites (até 250 metros quadrados, excluindo quiosques) faturaram, em média, R$ 2.439 por metro quadrado, 3,5% mais do que em julho de 2022.

Os valores foram corrigidos pelo IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo), do IBGE, portanto, os percentuais de crescimento já consideram a inflação no período.

Evidentemente que o faturamento total mensal de uma âncora é maior do que de uma loja menor, mas esses números revelam até porque grandes redes estão reduzindo de tamanho.

POR SETOR

O levantamento da Abrasce, reunido no ‘Monitoramento de Mercado’ de julho, mostra ainda quais foram os setores com maior ou pior performance por metro quadrado nos shoppings.

Em julho, os quiosques de alimentação registraram o maior faturamento médio por metro quadrado, de R$ 6.201, número 2,9% maior do que o de julho de 2022 (R$ 6.025).

Em segundo lugar foram as lojas de perfumaria, cosméticos e maquiagem, com um faturamento médio por metro quadrado de R$ 3.389, 14,6% maior do que o de julho de 2022.

Em seguida apareceram lojas de telefonia e acessórios (R$ 3.370, 3,7% maior do que o de julho de 2022) e de relojoaria, joalheria e bijuteria (R$ 3.272, 1,5% maior do que o de julho de 2022).

As lojas de vestuário, que são a maioria nos shoppings, registraram faturamento médio por metro quadrado de R$ 2.089, 0,1% maior do que em igual mês do ano passado.

Em sentido contrário, as lojas de eletroeletrônicos tiveram a maior queda na venda por metro quadrado, no período, de 11,4%, de R$ 2.991 (julho ano passado) para R$ 2.649.

Também reduziram vendas: livrarias, 7,4% (de R$ 988 para R$ 915), lojas de artigos para o lar, de 1,4% (R$ 1.696 para R$ 1.672) e de brinquedos, 1,1% (de R$ 1.236 para R$ 1.223).

MODELO ANTIGO

“Os shoppings estão calcados em âncoras que, no passado, faturavam muito, e que agora faturam menos, o que revela uma real necessidade de se redimensionar o modelo”, diz Marcos Hirai, sócio fundador do NDEV (Núcleo de Desenvolvimento de Expansões Varejistas).

Sem contar que, muitas das âncoras que até então eram super disputadas pelos shoppings, diz, enfrentam sérios problemas financeiros e estão em processo de encolhimento.

As razões são várias, desde a competição com gigantes do e-commerce mundial, como a Shein e a Shopee, até problemas de gestão e macroeconômicos, como juros altos e crédito restrito.

Em um dos empreendimentos com melhor performance do grupo Gazit, o Internacional Shopping Guarulhos, a Marisa reduziu a sua loja de 2 mil para 1,5 mil metros quadrados.

Exemplos como esse se multiplicam em vários shoppings espalhados pelo país, envolvendo nomes como Americanas, Centauro, Tok&Stok, Renner, Magazine Luiza e outras redes.

Lojas de 2 mil metros quadrados de produtos eletroeletrônicos, de acordo com Hirai, também não fazem mais sentido, assim como uma grande quantidade de lojas de vestuário.

É fato também, de acordo com arquiteto Maurício Queiroz, designer de projetos para o varejo, que um shopping sem âncora tem mais dificuldade para atrair público e lojas satélites.

Um dos empreendimentos que tem enfrentado este problema é o Cidade São Paulo, que fica na Avenida Paulista.

O que se observa neste momento, diz Queiroz, é que os espaços deixados por âncoras tradicionais abrirão um campo fértil para novos modelos de negócios, como food halls, áreas para entretenimento e serviços.

ALUGUEL

O levantamento da Abrasce também mostra que as lojas satélites (até 250 metros quadrados) pagam, proporcionalmente, um aluguel quase seis vezes maior do que as âncoras.

Em julho, as lojas satélites pagaram, em média, por metro quadrado, R$ 197 de aluguel, enquanto as âncoras (acima de 1.000 metros quadrados), R$ 34.

Para as semi-âncoras (de 500 a 999 metros quadrados), o valor médio por metro quadrado cobrado foi de R$ 51,6 e, para as mega lojas (de 250 a 499 metros quadrados), de R$ 69,3.

Os quiosques são os que pagam mais caro para estar em shoppings. Aliás, uma das grandes queixas dos lojistas. Em julho, o valor médio da locação por metro quadrado foi de R$ 314,6.

“Os shoppings foram assim concebidos. À âncora cabe atrair público, pagando, proporcionalmente, menos aluguel, e à loja satélite, complementar mix e usufruir do fluxo”, diz Hirai.

Paulo Matos, diretor-geral da Tommy Hilfiger no Brasil, diz que os centros comerciais sempre estiveram mais preocupados com as âncoras do que com as lojas satélites.

“O valor do aluguel é uma briga eterna com os administradores dos empreendimentos.”

Neste momento, diz, as âncoras estão “batendo de frente” no quesito preço com gigantes do e-commerce, e não estavam preparadas para isso, causando grande impacto nos shoppings.

“A protagonista de toda esta mudança é a Shein. A Zara já nem fala mais em fast fashion para não ser comparada com a Shein”, afirma Matos.

Assim como as grandes redes, diz, as lojas satélites também estão tendo de se mexer para se manter. “Estamos nos virando com omnichannel, live-commerce e levando peças até a casa dos clientes”, diz.

TRANSIÇÃO

Para Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da Gouvêa Malls, todo esse cenário mostra que os shoppings estão no meio de uma transição, na qual o tamanho de uma loja já não é mais determinante para atrair público.

“Vejo alteração no cenário de ancoragem dos shoppings. O setor de alimentação passa a ser interessante na ocupação de espaços de âncoras tradicionais”, diz.

De acordo com o levantamento da Abrasce, a venda média por metro quadrado do setor de alimentação foi de R$ 2.835 em julho, número 3% maior do que o de igual mês de 2022.

O setor de beleza, diz, também sempre foi resiliente, e não é por acaso que é um dos que mais venderam por metro quadrado e também um dos que mais cresceram no último ano.

“Posso deixar de comprar um sapato novo, mas não deixo de cuidar da aparência. Isso é um fenômeno que permeia todas as classes sociais”, diz Marinho.

Para Matos, da Tommy Hilfiger, as novas âncoras de fato devem ser menores e os shoppings vão ter de resolver uma questão importante em relação aos espaços ocupados por elas.

“Talvez muitas delas até fiquem onde estão porque, geralmente, as âncoras têm lojas com pouca frente e muito fundo. O que os shoppings vão fazer com o fundo?”

Sérgio Koffes, COO da Gazit Brasil, com seis shoppings em São Paulo, diz que já existem negociações para a instalação de lojas menores nos empreendimentos.

O que muda é que as negociações estão mais concentradas nos setores de serviços, gastronomia e entretenimento. E faz sentido.

No primeiro semestre deste ano, o volume de vendas do setor de alimentação cresceu 5,6% sobre igual período de 2022, de acordo com a PMC (Pesquisa Mensal do Comércio) do IBGE.

No mesmo período, os setores de utilidades domésticas e de vestuários registraram queda de 13,7% e 9%, respectivamente.

“O caminho natural é as âncoras mudarem de mãos. No lugar de uma rede de vestuário pode ter duas ou três operações, uma de roupas e duas de gastronomia, por exemplo”, diz Hirai.

IMAGEM: Divulgação/DC

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